O sentido do décimo mandamento não é somente a proteção da propriedade, mas também a atitude de gratidão pelo que nós temos. Se reconhecermos agradecidos o que Deus nos ofereceu, estaremos livres do olhar cobiçoso para a propriedade do outro. A cobiça, no sentido que o décimo mandamento a entende, não faz bem para a pessoa, pois a torna dependente de sua avidez (...) Através de nossa cobiça, não prejudicamos apenas o irmão com sua propriedade, mas também a nós mesmo. A cobiça é a fonte de insatisfação, de insaciabilidade e ganância.
Salutar contra isso é a gratidão para o que Deus me deu. A pessoa agradecida está satisfeita. É agradável na convivência. Com pessoas ingratas, não conseguimos nos entender. Elas estão continuamente insatisfeitas. Não se contentam com o seu salário, nem com o seu cônjuge, nem com a sua vida. Frequentemente são insaciáveis. O agradecido, por outro lado, se contenta com o que tem. Seus pensamentos não giram em torno da propriedade do outro, mas ele reflete sobre o que Deus lhe pediu (...).
A gratidão nos liberta da obrigação de nos compararmos com os outros e querermos colocar nossas obras e nossas aptidões acima das dos outros. A gratidão nos possibilita alegrar-nos com o outro sobre suas conquistas. Nós não temos que depreciar ou desvalorizar nem a ele nem a nós. Não perdemos nosso valor se reconhecermos, agradecidos, o valor do outro. Assim a gratidão nos vincula ao outro. Nós não somos o seu concorrente e nem ele é o nosso. Antes, olhamos juntos para o que Deus nos dá, às vezes para o outro, às vezes para nós, algumas coisas para ele e algumas para nós. A gratidão possibilita uma boa convivência e nos liberta de uma disputa permanente, da obrigação de nos compararmos continuamente com outros.
Toda pessoa tem motivo suficiente para agradecer. Não agradecemos apenas pelo que Deus ofereceu a nós mesmos, mas também pelas pessoas que nos ofertou, e pelas pessoas a quem concedeu muitos talentos que não encontramos em nós. Não temos que ter tudo em nós. É bonito podermos admirar algo nos outros que nos falta a nós. Então nós não invejamos, mas nos alegramos na riqueza que encontramos em outras pessoas.